A construção do calçadão de Ribeirão Preto foi antecedida por viagens a Curitiba, para que nossos olheiros oficiais pudessem trazer para a nossa cidade suas impressões estéticas sobre aquilo que se pretendia construir como nosso e, se possível, ser melhor do que o da capital paranaense.
Hoje se sabe que essa empreitada frustrada acabou por não construir nada melhor, nem igual. Construiu-se, rigorosamente, o pior, tanto que depois recebeu muitos remendos. Aliás, foi tão mal-executada essa obra que a justiça nem teve como escapar de condenar a sua execução de má qualidade, que afrontou, no tempo e no espaço, a cidadania.
Não é proibido sonhar, especialmente nesse momento de tanta expectativa positiva em relação à revitalização do nosso centro. Sonhou-se um dia com os espaços livres para o andar despreocupado e leve das pessoas e das crianças, que poderiam ficar, por ali, dia inteiro, olhando a fonte que joga água para cima, brincando de esconde-esconde, nas árvores, ouvindo a música de algum artista solitário solando uma canção de primavera, admirando a arte de nossos pintores e artistas plásticos, e despreocupadamente reservando a noite aos notívagos, aos poetas, aos sonhadores e aos vaga-lumes que enfrentam teimosamente a arrogância das luminárias e das luzes da cidade, quando o milagre da ressurreição os trazem de volta.
Não é proibido sonhar. Trazer à retina, como uma foto inesquecível, aquela área do centro de Berlim, com aquela cobertura que envolve o calçadão, lojas, bares, restaurantes, uma livraria, até uma estação de metrô, por onde se via tanta gente se locomovendo ou tantas pessoas sentadas, conversando, outras olhando, algumas namorando, bebendo, lendo jornal naquele local amplo por onde o vento ventava, quando ventava forte ou fraco, sem anteparo.
Um local assim, construído aqui em Ribeirão Preto, não precisava ser nem aproximadamente igual àquele da Alemanha, mas – digamos – deveria ser um local semelhante, com adaptação competente, sem o desvario do gasto fácil, no centro de nossa Ribeirão Preto, servindo de atração e referência aos seus habitantes, e também aos turistas de nossa região e de todas as regiões, que viriam para conhecer a obra de arquitetura (quantos arquitetos inspirados seguramente temos!), de engenharia (quantos engenheiros capazes seguramente temos!) e de arte (quantos artistas iluminados seguramente temos!) plantada ali, para ser visitada e admirada.
Não é proibido sonhar.