O general Góes Monteiro[1] ocupa um lugar de protagonismo na história política, institucional e militar do Brasil, num período de praticamente 25 anos, entre 1930 a 1955.
Ele foi o chefe militar da Revolução de 1930 e chefe militar no Movimento Constitucionalista de 1932, não aceitando inúmeras vezes o convite para ser Ministro da Guerra, para que isso não pudesse ferir a hierarquia do Exército, sempre preservada por ele. A isso se junta sua atuação permanente para unir as correntes que divergiam no interior da força armada do Brasil. Nomeado Ministro da Guerra em 1935, para um curto período, retorna em 1945, depondo em outubro o presidente Getúlio Vargas. Quando do retorno de Getúlio ao governo, agora eleito pelo voto popular, é nomeado para o Estado Maior das Forças Armadas (EMFA).
Era admirador da biografia de Napoleão Bonaparte, o que lhe custou, dentre outros, o qualificativo de bonapartista.
O livro é fruto de seu depoimento ao jornalista antigetulista Lourival Coutinho, e que se estende por mais de quinhentas páginas, trazendo o título “O general Góes depõe …”.Ele se constitui da entrevista diária, que durou trinta dias, no ano de 1955, quando estávamos sob as consequências do fatídico suicídio de Getúlio. Tragédia que valeu como contragolpe para salvar a incipiente democracia brasileira, em perigo. Entre uma resposta e outra, a interrogação do jornalista surgia sempre como um torpedo dirigido à figura de Getúlio, que o General não avalizava, e discretamente não deixava o tal torpedo explodir. Só que na perspectiva da história, Getúlio foi o construtor do moderno Estado brasileiro, sob a égide de ideias do chamado trabalhismo, que governos da nova república procuraram se desligar desse patrimônio histórico, cuja descontinuidade rompeu uma linha de construção teórica e prática, que atualizada ao invés de interrompida, poderia constituir um instrumental de redenção.
O General fazia críticas ao mundo político e às práticas que se desenrolavam nele, particularmente daqueles que corroem o interesse público, ignorantes de suas responsabilidades para com a nação desigual e injusta. Reconhecia que a revolução de 1930 não mudara os costumes e as práticas políticas do país. Também feria as nossas elites sempre voltadas para o figurino do exterior, sempre alheias à realidade dessa rica e original convergência étnica que se desenvolveu na terra brasileira, do índio, do branco e do negro.
Naquele dia em que falou do estoque de gasolina do exército, que só daria para oito dias, o que provava seu despreparado para qualquer guerra, ressurgiu a ideia dele, general, para a instalação do Conselho Nacional do Petróleo, ocupado tanto tempo pelo general Horta Barbosa, e com ela a história da luta nacionalista do Petróleo é nosso, que não terminou com a instalação da Petrobrás, símbolo desse movimento de luta, destacando sua importância estratégica na defesa da soberania do país. Atualmente, porém, ela está sendo desmontada, como fonte disfarçada de corrupção, que ultrapassa qualquer valor imaginável, na ânsia apressada do assalto com aparência de legalidade. Eles estão correndo, porque desconfiam que o vento pode mudar de rumo. Os fautores do Estado mínimo querem destruir o Estado de Bem-estar e deixar nos escombros a esperança, que renasce para o alvorecer de um Estado democrático real e com uma política de desenvolvimento nascida do concerto livre das classes e dos interesses nacionais, expressos na vontade de fazer o Brasil dar certo.
Assim, podendo responder ao saudoso professor, indianista, antropólogo e político, Darcy Ribeiro, em O Povo Brasileiro, a interrogação que ele fez, muitos anos depois do general Góes “Por que o Brasil não deu certo?”. Com esse desgoverno atual, entreguista, desmemoriado, amante das armas e dos ódios, ele mesmo agindo como um vírus mortal da experiência democrática, a ânsia da pergunta histórica de Darcy converte-se, como resposta ao nosso General, em indignação pessoal e coletiva.
[1] PEDRO AURÉLIO DE GÓES MONTEIRO: nasceu em 1889 em São Luis de Quitunde, Alagoas. Em 1922 – cursou a Escola de Estado Maior do Exército, ficando ao lado da legalidade no levante tenentista. Incentivou os Corpos provisórios no Rio Grande do Sul. Em 1930 – torna-se líder militar da Revolução, comandou as forças legalistas contra o Movimento Constitucionalista de 1932. Oswaldo Aranha, líder político, seu “animador e articulado”. Era comandante da 3º Regimento de Cavalaria Independente (RS). Em 1931 – generalato e Comandante da 2ª Região Militar (SP), e em maio de 1932, foi afastado do cargo. Integrou a Comissão do anteprojeto da Constituição para a Constituinte de 1933. Em 1934 – é nomeado Ministro da Guerra, deixando o Ministério em 1935. Em 1937 – torna-se Presidente do Clube Militar e é nomeado para o comando do Estado-Maior do Exército. Em 1939 – cumpre missão nos Estados Unidos. Em 1945 – torna-se Ministro da Guerra, articula a deposição de Getúlio Vargas. Em 1947 – é Senador por Alagoas. Em 1952 – no governo de Getúlio, torna-se Chefe do Estado-maior (EMFA), e em seguida nomeado Ministro do Superior Tribunal Militar (STM). Morre em 1956, no Rio de Janeiro.