Esse número é o dos dias em que o ex-Presidente Lula esteve preso.
Esse período se tornou objeto de filme, na modalidade de documentário da TV 247: 580 dias – A prisão e a volta triunfal de Lula, com o jornalista Joaquim de Carvalho. Ele revela a determinação incomum do preso, em não aceitar qualquer denúncia contra ele, firmemente consciente de que nenhum crime ele cometera. Sempre se recusou a exilar-se numa embaixada estrangeira, como poderia fazê-lo tranquilamente. Ainda, ele, preso, não autorizou pedido de flexibilização do regime carcerário, como o de ficar em casa com uso da tornozeleira eletrônica e outras restrições. Ele disse que seus filhos sofreram duas buscas e apreensões, sem que encontrassem absolutamente nada, nem contra eles, nem contra ele. E afinal, ele decidira não aceitar nada que pudesse ser implicitamente interpretado como admissão de culpa. Se tivesse agido e aceitado diferentemente do que agiu, teria dado ao juiz parcial, suspeito e desonesto, e sua tropa de choque de procuradores da república, aquilo que os alegraria, em definitivo. A perseguição foi para que ele não disputasse aquela eleição de 2018. Mas o The Intercept Brasil, ocasional e surpreendentemente, expôs a canalhice coletiva que despencara calculadamente sobre a cabeça do líder político fortemente credenciado a ganhar as eleições. Disse o procurador-chefe do bando: “É preciso fazer muitas acusações contra o Lula, para que ele fique desacreditado junto à população, e a defesa deles não tenha tempo para realizar seu trabalho”.
É fundamental repetir: não aceitara antes exiliar-se em embaixada estrangeira. Não aceitara depois procurar a flexibilização do regime de cumprimento de pena, ficar em casa com tornozeleira eletrônica.
Sua chegada a Curitiba, com milhares de pessoas esperando-o, foi palco de violência policial desnecessária. A sua condução por aeronave da polícia federal teve um episódio tristemente exorbitante, quando um policial pretendeu algemá-lo. Algemá-lo? Sim, Algemá-lo. E durante o voo o policial segurava, ameaçadoramente, uma arma.
A divisão político-ideológica, que marca o Brasil de hoje, como vômito do discurso do ódio, não é suficiente para ignorar ou tentar apagar o extraordinário movimento de opinião que ficou plantado, durante todo período de prisão do ex-Presidente, nas cercanias do prédio da Polícia Federal, em Curitiba, com o estribilho diário do Bom dia, Presidente! Boa tarde, Presidente! Boa noite, Presidente!
Também fatos pitorescos emergem dessa experiência. Um deles é a exigência feita pelas nobres autoridades para que um pai de santo, que desejava fazer uma visita ao prisioneiro famoso, foi exigida a prova de que ele, pai de santo, era mesmo pai de santo.
E o mais forte diálogo aconteceu quando o juiz espanhol Baltasar Garzón, famoso internacionalmente, não só como defensor dos direitos humanos, mas também como quem expediu a ordem de prisão contra o genocida chileno, general Augusto Pinochet, agarrado na Inglaterra, e que quando morreu deixou, além do legado fedorento de mortes, um número invejável de contas bancárias esparradas pelo mundo afora: 120 contas.
Lula disse: Dr. Garzón, se eu tivesse a consciência de ser minimamente culpado, eu não o receberia.
Ao que Garzón respondeu: Presidente, se eu tivesse a mínima certeza de que o senhor é culpado, eu não teria vindo visitá-lo.
Na verdade, esse histórico documentário estampa um período vergonhoso, no qual um grupo de procuradores e um juiz, que desfilam, impunemente, na história do sistema de justiça brasileiro como bandidos togados foram desventrados pelo Intercept Brasil, pois os diálogos, entre eles, revelam uma perseguição política vergonhosa para os verdadeiros e honestos homens das leis e para a cidadania em geral.
Os defeitos de uma sentença medíocre, denunciada antes por centenas de advogados e juristas encontraram sua prova com a revelação da intimidade oficial de todos eles, e seus respectivos diálogos. Uma procuradora, logo em seguida, apresentou publicamente, suas desculpas.
Falta, porém, uma pesquisa sobre a vinculação desses brasileiros lesa-pátria com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, para definir a responsabilidade de cada qual, seja na entrega de documentos da Petrobras, em ato deliberadamente sonegado do governo brasileiro, seja para definir qual o efeito do trabalho bastardo no jogo político da geopolítica, na relação do império com o Brasil e a América Latina.
Já se conhece o número de desemprego causado pela falsa virtude pública da chamada república de Curitiba, que apoiada por uma imprensa não investigativa, repetitiva de versão convenientemente oficial, enganou e intoxicou tanta gente.