Em 1963, Miguel Arraes de Alencar (Araripe-Ceará, 13/8/1916 – Recife 13/8/2005) assumiu o governo de Pernambuco, vencendo o usineiro João Cleofas de Oliveira (Vitória de Santo Antão 22/9/1899 – Rio de Janeiro 17/9/1987). Era a terceira vitória, pois antes fora prefeito; depois de exilado, seria deputado estadual (1982) e ainda ocuparia o cargo de governador por mais duas vezes (1986 e 1994). Cassado pelo golpe de 1964, retornou da Argélia após quatorze anos, anistiado pela lei de 1979.
A atitude do governo vencedor, que representou verdadeira iniciação ao estudo de economia ou de políticas públicas, foi de tamanha simplicidade que serve de reflexão até os dias de hoje.
Essa atitude “subversiva” de um governo “subversivo” foi assinar um pacto com os usineiros para que eles cumprissem a lei, ou seja, garantiu-se aos trabalhadores os direitos sociais e, ainda, o pagamento do salário mínimo.
A consequência do salário mínimo recebido foi vertiginosa, o comércio de Recife ficou movimentadíssimo, o estoque de chapéus branco esgotou-se. Na época, a teoria vigente era de que o aumento de salário gerava inflação.
O atraso de nossos capitalistas não vislumbrou, e até hoje majoritariamente não vislumbra, que a economia é a do consumo de massa e, portanto, sem poder aquisitivo, ou seja, sem emprego estável, a economia fica sem seu motor, visto que não existe massivamente consumidores reais para comprar; e se o comércio não vende por falta de compradores, não há razão para fazer encomenda à indústria, e não havendo encomenda do comércio para quem é que se produzirá? A indústria não pode esperar por muito tempo, é fechada e o desemprego cresce.
Agora, o jornal O Estado de São Paulo traz a matéria assustadora, na edição do dia 17 de janeiro, com a seguinte manchete: “País perdeu em média 17 fábricas por dia nos últimos seis anos”. Essa realidade nua e crua mais uma vez confronta com o que diz o oráculo presidencial, juntamente com seu suboráculo, o da economia, quando pretende, um e outro, adivinhar a decisão da Ford, em deixar suas plataformas brasileiras, anunciando o desemprego de cinco mil empregados.
Pois então, se não há poder aquisitivo massificado para a compra de chapéu branco, não há poder aquisitivo para comprar veículo novo.
E, o grave, é que esse governo aumentou a instabilidade do país com a ajuda do “divino mercado”, com sua reforma da previdência social, que prejudicou os mais pobres, reforma trabalhista que serviu ao capital alienado, ignorante do óbvio: a economia de massa.
Ainda, assumiu-se o tal “teto constitucional”, como se as necessidades sociais não fossem expansivas dia a dia, ano a ano, só pretendendo o emagrecimento do Estado, sob a capa enganosa de privatização, sem nenhuma política de investimento público que gere receita, e sem nenhuma política efetiva para evitar o fechamento da indústria e do comércio, até mesmo nessa época de covid-19.
Se os países poderosos estão emitindo moeda para salvar a vida das pessoas, a indústria e o comércio, a educação e a cultura, porque o Estado brasileiro, que vive de cópia, não copia esse exemplo que deve ser seguido? Lá, como aqui, emitir moeda na crise não gera inflação. É o que se aprende com as palestras de André Lara Rezende, Ciro Gomes e Bresser Pereira.
O Brasil poderia ainda utilizar um terço dos trezentos milhões de dólares de suas reservas internacionais para planejar, em diálogo com as forças políticas da sociedade organizada, algo inovador para ressuscitar o país.
A mediocridade, no entanto, entrega-se mediocremente à força da gravidade.