Está próximo do seu fim o processo eleitoral que indicará o próximo governador de São Paulo e o próximo Presidente da República.
O que fica de certo, qualquer que seja o resultado, é que o país está dividido, como nunca esteve.
E o discurso do ódio, ainda que derrotado, deixa uma leva de seus adeptos, que faz o Brasil temer a si mesmo. Com propaganda gratuita das armas para o povo, o que facilitou seu acesso aos traficantes e às milícias, sendo que, ainda, houve violência e morte entre adeptos de políticos contrários.
O sentimento da identidade nacional, essa ideia-força que deveria invadir o espírito da nação que se desenvolve conhecendo o respeito às diferenças, está decrescendo, decrescendo, mais e mais, com o discurso do ódio, que fixa no adversário político a pecha de inimigo da família e da nação, que vai levar o país ao comunismo, mesmo que o comunismo não exista mais. E corrupto é o outro.
Muitas lições derivam dessa realidade de barbárie política.
A mais expressiva delas é a brutalidade com o sentenciado Roberto Jefferson, em cumprimento de sentença judicial em casa e com tornozeleira, ofendeu grosseiramente Ministra do Supremo Tribunal, pois teve seu benefício revogado e recebeu a Polícia Federal com tiros, que feriram dois policiais. Diz-se, ainda, de como um condenado pode ter, em casa, armamento pesado, inclusive granada. Responderá por novos dois novos crimes de tentativas de homicídios, e ainda pela posse ilegal de armas, sendo ainda que vão investigar como e através de quem o réu conseguiu tantas armas. Mas chama a atenção o cuidado com esse reconhecido marginal, o fato de o Presidente da República ter mandado o Ministro da Justiça para o local do delito. Anotou-se que na casa estava o “padre” que disputou a eleição presidencial por indicação do Partido do preso.
Outra lição pode ser retirada da violência verbal, agora em prol do antirracismo, verbalizada sintomaticamente, por advogada mineira, afastada da função que exercia na composição da Comissão dos Direitos Humanos, na sede da sua Subseção da OAB.
Ela falou contra os nordestinos, convidando a não mais visitarem o Nordeste para não estimular a ignorância, especialmente do voto. A mesma tolice foi dita pelo Presidente arruaceiro, que é candidato, e que depois foi correndo para a região para tentar desfazer o palavrório chulo e discriminatório.
Tem-se assim advogada, que tem o dever de conhecer a Constituição, e defendê-la, e um Presidente que a jurou mais de uma vez, como político vitorioso nas urnas eletrônicas, juntinhos nessa pregação absurda, que tem efeitos visíveis e invisíveis.
O visível é esse descalabro de assistir aos princípios constitucionais serem violados grosseiramente. Eles que regem nossa convivência social. E uma profissional da defesa deles chegar a tal e expressá-lo. E tal espírito discriminatório, difuso na sociedade, não se esgota nesse ato, pois é encontrado até em torcida de campos de futebol, e mesmo naquele do empresário preso, que rejeitou emprego da mulher pela cor da sua pele.
O efeito invisível é a corrosão da unidade territorial, conquistada no correr dos séculos de maneira pacífica e política, o que equivale dizer pelo diálogo, podendo aprofundar, no correr do tempo, um desejo separatista, rompendo a grandeza territorial do Brasil, cuja divisão é o sonho de qualquer potência estrangeira, que interessa sempre dividir para explorar.
É verdade que o discurso petista, em determinado momento, dizia “nós” e “eles”. Entretanto, jamais seu conteúdo trazia um componente de ódio, verberado em torno da chamada “herança maldita”, também uma expressão que, se foi exagerada, não é violenta, aceitável na gramática da política partidária.
O discurso do ódio foi o maior programa Presidencial nesses quatro anos de palavrões e xingamentos, nas descomposturas presidenciais, já que eleito pela força surpreendente das “fake News”, que ele as estimulou, até instalando no Palácio o gabinete do ódio. Deixou declarado que ocupa o cargo para proteger familiares e amigos. E xinga chefes de Estado, mulher de chefe de Estado, companheiros de governo, governos estrangeiros, instituições, particularmente o STF, e fala dos valores da família, como se ele fosse o baluarte da defesa deles, sem que a intoxicação ideológica impressa massiva e cientificamente na sociedade brasileira permita examinar o óbvio das circunstâncias familiares, e com elas as políticas, de quem se apresenta como baluarte. Até mesmo os evangélicos não estão informados do que pastores aprontaram no Ministério da Educação, com exigência até de barras de ouro para facilitar a liberação do dinheiro destinado às Prefeituras
Se a democracia não foi ensinada diariamente para que soubéssemos até como defendê-la dos que se aproveitam dela para tentar destruí-la com a invocação da liberdade de expressão, saibamos que o centro dela é a pessoa humana e a liberdade de expressão só está limitada quando o seu uso ameaçar a própria democracia e as instituições que a sustentam e declaram, como o Supremo Tribunal Federal, cuja função é justamente declarar o limite da atuação do Estado. O autoritarismo não aceita limites.
O discurso político necessário é o discurso que propague o solidarismo, que está na Constituição, e que pressupõe a vinculação de milhões de brasileiros no processo econômico da produção e do consumo e no processo cultural, consagrando a diversidade do Brasil real, ressuscitando o sentimento de identidade sob um governo que respeite as pessoas e as instituições. E só com esse sentimento de identidade nacional, como ideia-força, é que poderemos fazer do Brasil a liderança redentora da América Latina e uma luz para o mundo.