Se ele ficou prisioneiro, entre quatro paredes, durante 27 anos, tempo mais do que suficiente para que seu espírito e sua consciência exorcizassem o ódio e a vingança que alimentavam seu coração de negro libertário, agora, entre as danças e cânticos alegres de seu povo pobre, mas altivo e grato, agora, ele se torna prisioneiro do universo visível e invisível, para derramar, sobre o mundo teimoso, seu sorriso e sua palavra de esperança e amor. Nelson Rolihlahla Mandela.
Se é mais um espírito luminoso que dá assistência aos vivos na proximidade desse Natal, tão igual a tantos outros Natais, outro espírito – de igual intensidade – surgiu na burocracia da Terra via Céu, – na qual se convertera as expectativas católicas, desde a morte de João XXIII – e, em pouquíssimo tempo, revolucionou não só as formas da mediocridade nas quais se arrastava o ritmo oficial da Igreja, mas fundamentalmente assoprou com suavidade o vento profilático da boa-nova que o mundo, aprisionado pelas estruturas sem alma, está sempre aberto a sua recepção, como se estivesse dando seu último adeus às estrelas. Papa Francisco.
Ele surgiu assim, de repente, e, com a força imensurável de sua humildade, gavetas e porões, corredores e salas, livros e notas contábeis, subterrâneos dos edifícios oficiais e dos corpos humanos generosos ou desalmados, assim como a natureza, o vento, a lua, o sol, tudo e todos sofreram, rapidamente, a faxina de sua figura carismática, quase onipresente, quase onisciente, como a varinha mágica do milagre inesperado, que foi afastando o ranço, a fraqueza da alma, do espírito e do caráter, o pó acumulado das incompreensões e as paredes de separação dos homens, dos povos e dos países, recolocando a ponte da compreensão e da tolerância, para ensinar que a fraternidade é o vício sagrado de todos os iguais que somos.
Papa Francisco, ar paternal, olhar de mansidão, viveu a contradição do impossível de fazer devagar o que rapidamente voltou a florir no sorriso de milhares de jovens esparramados pelo mundo, de pessoas, milhares delas, concentradas nas praças, entre comovidas e respeitosas, saudando-o com o terço santo nas mãos levantadas, em atitude de gratidão e de súplica.
Neste Natal, a sementeira da Esperança encontra nas cercanias da Terra um espírito circulante e absoluto de humildade, o papa Francisco, e, em Mandela, a energia forte da vingança, convertida em tolerância, abastecendo as usinas de força do universo. Ambos convergem para intensificar, até o infinito, a luz redentora dos pecados e das paixões humanas.
Por isso, de coração leve e aberto, felicitemo-nos por mais este NATAL.