Um dia perguntaram a Eduardo Galeano, o grande literato uruguaio, o que é viver. Ele respondeu: “Viver não é ganhar, viver é ter consciência”.
Tendo-se consciência da vida, tem-se consciente do voto. E para este ano e para esta próxima eleição, essa consciência será responsável pelo surgimento quiçá de lideranças e fundamentalmente de políticas públicas que garantam, ou devam garantir, ao país desenvolvimento sustentável e humano.
Espera-se que o candidato vitorioso não se apegue a slogans, ou à palavra de ordem, ou a xingamento, ou a sorriso congelado, ou a um lançador de preconceito e ódio contra ideias e pessoas, como se o mundo precisasse de mais estupidez. O debate da vitória deve ser de programas, nos quais a ética e a moral pública nem precisem de palavras, estão neles pelo simples fato de serem eles.
Em cada narrativa, o Brasil precisa deixar claro, para nossa gente e para o mundo, o que quer de si mesmo. Afinal, rico de solo, rico de subsolo, rico de água, rico de florestas, rico de vento, rico de povo miscigenado e, infelizmente, riquíssimo em desigualdade social.
Esse rico e contraditório Brasil, que parece desossado na crise institucional que o assola, terá, com a legitimidade do voto, o retorno dos membros de Poder e de Instituição ao trilho da discrição e da legalidade, para cumprir sua função pública com eficiência máxima e rigor absoluto, sem o espetáculo para rádios, televisões e jornais, que desmoronam o prestígio da justiça com condenações antecipadas.
Na legalidade democrática, nenhum membro de qualquer um dos poderes ou de instituições pode pretender substituir, com ou sem arrogância, o que é da competência exclusiva da soberania popular. Hoje, tal equívoco acontece sob o pretexto de se acabar com a corrupção.
A corrupção é um mal tão nefasto e tão íntimo da convivência humana que ela precisa ser enfrentada por pessoas e instituições, com a etiqueta impressa do “sem parar”, e no sistema de liberdades democráticas exercidas ininterruptamente, e com as quais até os salvadores ocasionais da moral pública têm um papel a cumprir, mas sem espetáculo, com discrição e rigor funcional, ético e legal.
A consciência do voto, como reflexo da consciência da vida, poderá reconstruir o sentimento de nação, uma ideia que Bresser Pereira, economista, reclama com fervor cívico.