Senhor Presidente
Waldomiro W. Peixoto
Senhores, Senhoras.
Amigos do Rui Flávio, amigos nossos.
RUI FLÁVIO CHÚFALO GUIÃO, familiares.
“Somos a memória do outro”.
A tecnologia das redes sociais, esse instrumento do gênio da humanidade, tem tido o efeito perverso de querer corroer, incansavelmente, as relações humanas. Não querem se apropriar simplesmente delas, pretendem retirar delas aquela afetividade ou simpatia, que aproximam as pessoas. Indiretamente, é o culto do Ser despido de humanidade, despido de solidariedade.
A linguagem utilizada é sempre a da concisão, alheia a qualquer pensamento crítico ou criativo. É a notícia pela notícia, quando ela não é a notícia falsa. O passado não mais oferece um parâmetro pesquisado e concluído como ocorrência de atos e fatos, mas tudo fica sujeito ao liquidificador da especulação destrutiva de múltiplas interpretações, ou de negações peremptórias de evidências e de atos e fatos.
O melhor ensinamento – conforme opinião conjunta com Sérgio Roxo da Fonseca e Cezar Augusto Batista – para essa ameaça da síntese-destorcida da informação é extraído do livro “A morte da verdade: notas sobre a mentira na era Trump”, de Michiko Kakutani, Editora Intrínseca, 2018, no capítulo “Apropriação da linguagem”, quando retira e assume do livro de Victor Klemperer, “A linguagem do Terceiro Reich”, que ela “penetrava a carne e o sangue do povo”, por meio de expressões idiomáticas e estrutura de frases que foram impostas a eles em um milhão de repetições e internalizadas de forma mecânica”. E também um alerta tão desconcertante, quanto “1984″, de Orwell, “para outros países ou gerações sobre o quão rápida e insidiosamente um autocrata pode usar a linguagem como arma para suprimir o pensamento crítico, inflamar a intolerância e sequestrar uma democracia”.
É como se o vazio dos espaços de convivência pudesse invadir a humanidade das pessoas. E não o contrário.
Com essa inquietação existencial, procuro o conteúdo do universo, da Terra e neles das pessoas, na arqueologia do pesquisador franciscano, católico e francês, Padre Teilhard de Chardin (01/05/1881 a 10/04/1955), cuja sabedoria revelou a energia movedora de tudo que vemos e pensamos e somos: a energia do Amor.
Entenda-se que não é o Amor da descarga domingueira. Não. É, sim, o Amor fervilhante das catacumbas, que derrubou império com a assunção democrática da lição “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Essa mesma energia que nos faz semelhante uns aos outros.
O desenho pessoal dessa hipótese cientifica é de círculos concêntricos. E nela a relação de Amizade ocupa, quem sabe, o terceiro círculo concêntrico, com mínima diferença de energia em relação à fonte, trazendo seu atributo vertebral que é a lealdade e a fidelidade.
Bendigo a energia nascida da fonte do Amor, que se chama Amizade. Até porque, somos a memória do outro.
Nesta solenidade a força que me impele não é só a da Amizade, mas é ela, sim, cercada e assumida pelo espírito crítico do justo, com o esforço heroico da imparcialidade.
Eis a fonte da qual me socorro para falar de Rui Flávio Chúfalo Guião, advogado, empresário, vocação de historiador, que logo no início de sua idade adulta encontrou a mulher de sua vida, Cecília de Barros Cruz Guião, plural que se converte em singular, em cada filho ou filha.
Conhecemo-nos no antigo Ginásio do Estado, depois Instituto de Educação “Otoniel Mota”. Ele, intelectualmente disciplinado, colocava-se sempre – e com naturalidade – no primeiro ou segundo lugar, com as notas do aproveitamento das matérias. Estudante organizado, disciplinado. Seu perfil era de quem cuidava dos estudos sempre com dedicação. Humana, intelectual e culturalmente, o pai, João Palma Guião e sua mãe, Nair Chúfalo Guião, lhe propiciaram, além dos valores éticos e morais da família, a preparação cívica e social, que permitiria ao filho ocupar no seio da sociedade qualquer lugar de responsabilidade que o destino lhe reservasse.
No tempo colegial, participou da política estudantil, inclusive como Diretor do Departamento de Cultura do Centro Nacionalista Olavo Bilac, onde seu legado está descrito no primoroso relatório de atividades, que está no arquivo da escola e do tempo. Primoroso, sim, não só pela forma.
Na Faculdade de Direito da USP, lá do Largo de São Francisco, compartilhamos a mesma moradia durante o tempo de estudo universitário.
Fizemos política juntos. E nem por isso deixamos de ser diferentes, ora na motivação, ora nos métodos. Mas é dessa convivência duradoura de diferentes que trago a melhor compreensão, consciência e prática do que significa, humana e socialmente, o respeito às diferenças econômicas, sociais, culturais, étnicas, que me colocam atento ao passivo social do Brasil e a sua desigualdade histórica, que nos coloca no ápice mundial desse atraso e dessa vergonha.
Mesmo preparado pela vida estudantil, febril nos tempos em que a vivemos, passou rápido pelo escritório de advocacia do pai, para ingressar no mundo fabuloso da realização empresarial, na qual fez e faz sucesso, que aliás faria em qualquer outra função ou lugar. Claro, revelou-se líder em organismos empresariais, com representação no exterior, inclusive.
Atrasou, nem se sabe o porquê, em ocupar a cadeira da família nessa Academia. Afinal, o avô João Rodrigues Guião é o patrono da Cadeira nº 23, que o pai João Palma Guião ocupou de 03.05.1965 a 07.04.1985. É articulista semanal do jornal Tribuna. A sua temática revela sua cultura geral.
A obra do Rui Flávio Chúfalo Guião documenta traços do final da escravidão no montanhoso Vale do Paraíba e a transferência da sua agricultura para o nordeste do Estado de São Paulo. Por isso o seu livro sobre a sua família, sob o título “Forte Gente“, de 2014, ultrapassa limites, lança as raízes naquele tempo, projetando sua configuração na atualidade.
O compromisso com a linguagem, dentro da qual sonhamos e vivemos, nos impõe, no tempo presente, o mais forte vínculo com a realidade, examinando-a sempre com o imperativo do espírito crítico. Só com a conquista dessa consciência crítica é que se contribui para se avaliar o que é falso (fake News) nessa inundação de informações que ataca qualquer pessoa, criança ou adulta, no dia a dia de cada uma.
Meus amigos, Rui Flávio, para Teilhard de Chardin, “a Criação não é um ato consumado”.
“Somos a memória do outro”.
A Academia Ribeirãopretana de Letras, que em outubro completará 75 anos, é a memória da cidade e do mundo.
Bem-vindo, Rui Flávio Chúfalo Guião.
13 de setembro, 20h.
Dabi Business Park
Rua General Soares dos Santos, 100, Lagoinha, Ribeirão Preto.